Artigo de Opinião de Raúl Sousa, Optometrista e
Presidente da APLO
Semana
Mundial para a Consciencialização da Miopia realiza-se de 13 a 19 de maio
Miopia pode
afetar metade da população mundial em 2050
A prevalência da miopia está a aumentar
globalmente a um ritmo alarmante, com o aumento significativo dos riscos para a
deficiência visual causada pelas condições patológicas associadas com a miopia
elevada, incluindo patologias da retina, catarata e glaucoma. O relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS) – Instituto de Visão Brien Holden
contabilizou, em 2010, quase dois mil milhões de pessoas que sofriam de miopia
(27 por cento da população mundial), sendo que 2,8 por cento sofre de miopia
elevada. É projetado para 2050 um aumento para quase cinco mil milhões de
míopes, representando 52 por cento da população mundial, dos quais cerca de mil
milhões serão altos míopes, ou seja, 10 por cento da população mundial.
É relevante que o erro refrativo seja apontado,
tanto no mundo como em Portugal como a causa principal de deficiência visual, e
a miopia não corrigida como a causa mais frequente de deficiência visual,
quando avaliada pela acuidade visual de apresentação. Sabemos que a não
correção ou correção inadequada contribui para o aumento do valor da miopia em
crianças e adolescentes. A OMS também aponta que a redução do ritmo de
progressão da miopia em 50 por cento pode reduzir a prevalência da miopia
elevada em 90 pontos percentuais. A correção da miopia nas crianças elimina o
maior obstáculo evitável à aprendizagem e desenvolvimento individual, com
benefícios gigantescos para a sociedade. O impacto da saúde visual estende-se
para lá da prevalência da deficiência visual e cegueira. É um catalisador de
progresso e está interligado com o emprego e crescimento, igualdade de género e
oportunidades, educação, segurança rodoviária e saúde física e bem-estar mental
individual.
Por esse motivo, assegurar o acesso aos cuidados
primários para a saúde da visão na comunidade e de proximidade é absolutamente
prioritário e essencial. Nas palavras da Agência Internacional para a Prevenção
da Cegueira: “Os optometristas desempenham um papel vital ao assegurarem o
acesso a cuidados para a saúde da visão. Eles frequentemente são o primeiro
ponto de contacto para a população que sofre de problemas visuais; responsáveis
por examinar o olho, prescrever óculos e lentes de contacto e, importante,
detetando qualquer doença ocular ou anomalia, referenciando para o médico,
quando necessário.”
A miopia carateriza-se por uma visão desfocada
dos objetos situados ao longe e visão mais nítida dos objetos próximos. Este
processo ocorre devido ao aumento do globo ocular em relação à sua normal
morfologia, ou ao aumento da curvatura na córnea, o que leva a que as imagens
dos objetos situados a mais de cinco metros fiquem desfocadas, uma vez que o
foco é feito antes da retina.
É na infância e na adolescência que normalmente
surge esta condição, que tende a progredir com o passar dos anos até
estabilizar por volta dos 20 anos, sendo que a deteção e a compensação
atempadas ajudam a estabilizar a evolução do problema.
O primeiro passo para o diagnóstico da miopia
passa pela identificação dos principais sintomas, para os quais os pais devem
estar alerta. São eles as dores de cabeça, cansaço associado ao esforço ocular,
fechar um pouco os olhos para ver melhor, pestanejo regular, aproximar-se para
assistir televisão, etc. A sala de aula é também um contexto importante para a
deteção da miopia, principalmente se a criança ou jovem mostrar dificuldade em
ler para o quadro.
Sempre que reconhecer um ou mais destes
sintomas, deverá procurar um especialista nos cuidados para a saúde da visão,
nomeadamente um optometrista ou um oftalmologista. No caso do optometrista, o
diagnóstico é realizado através de várias técnicas distintas nas quais se
incluem a retinoscopia ou autorrefratometria, que visam avaliar o erro
refrativo objetivo; e a refração subjetiva, um método refrativo em que o
resultado depende da resposta do paciente.
A miopia é multifatorial, mas o principal fator
de risco para o desenvolvimento da miopia é a genética, isto porque a presença
desta condição num ou ambos os progenitores aumenta a probabilidade de a
criança vir a ter miopia. Em suma, estudos recentes têm apontado para a
existência de outros fatores potencialmente proporcionadores de miopia, a
saber: passar grandes períodos a ler, ao telemóvel, ao computador ou a ver
televisão, a existência de pouca luz, a falta de exercício físico ao ar livre,
entre outros.
Recentemente a Organização Mundial da Saúde divulgou
um conjunto de recomendações a respeito da atividade física, comportamento
sedentário e sono nas crianças com menos de cinco anos de idade. Nesse
relatório é descrito o tempo ideal de utilização da televisão e dispositivos
eletrónicos para este grupo etário. Segundo a OMS, crianças até um ano não
devem utilizar estes monitores, enquanto que dos dois aos quatro anos o tempo
de visualização não deve ultrapassar os 60 minutos.
No que concerne ao seu tratamento, a compensação
da miopia é feita com o auxílio de lentes côncavas (lentes negativas), que
podem ser oftálmicas (lentes para óculos), de contacto ou intraoculares (lente
introduzida dentro do olho através de intervenção cirúrgica).
Alcançar o diagnóstico atempado deste e outros
erros refrativos, assim como a aposta na prevenção de comportamentos de risco, são
dois dos principais desafios dos optometristas, os quais só poderão ser
cumpridos se se apostar na consciencialização da nossa sociedade.
Segundo o Instituto da Visão Brien Holden e o Conselho Mundial de
Optometria, que este ano organizaram o “Myopia
Movement”, uma iniciativa de sensibilização mundial para esta condição
visual, procura-se evitar que até 2050 o número de pessoas com miopia possa
chegar aos cinco mil milhões, o que equivale a 50 por cento da população
mundial. É com a missão de trabalhar para a melhoria desta previsão que os
optometristas, enquanto profissionais que prestam cuidados primários para a
saúde da visão, vão continuar a empenhar-se para trazer mais conhecimento sobre
a miopia e outros erros refrativos junto da população portuguesa, promovendo o
alerta para o reconhecimento dos sintomas destas condições visuais.
