sexta-feira, 31 de maio de 2019

Tabagismo: um desafio de prevenção e tratamento

Dia Mundial sem Tabaco assinala-se a 31 de maio
Tabagismo: um desafio de prevenção e tratamento
No dia 31 de maio assinala-se o Dia Mundial sem Tabaco, e a Medicina Interna não pode deixar de assinalar esta data, uma vez que todos os dias trata doentes que o são porque fumam ou fumaram.
A “Doença Tabágica”, ou seja, as repercussões do tabaco ao nível da saúde são sistémicas, pode atingir todos os órgãos. Sendo a Medicina Interna a especialidade que trata as doenças sistémicas, não podemos deixar de incluir a cessação tabágica como uma prioridade no tratamento dos doentes.
Falamos das diferentes repercussões do tabaco: DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica), doenças cardiovasculares (angina e enfarte do miocárdio), AVC (acidente vascular cerebral), doença arterial periférica, cancros nomeadamente do pulmão, da laringe, da bexiga, do rim, lesões oculares que podem levar à cegueira, entre outras.
A cessação tabágica é essencial na abordagem dos doentes fumadores com doenças atribuídas ao tabaco, uma vez que é a medida mais eficaz no seu tratamento e, em muitos casos, a única que pode travar a sua progressão.
Em 2002, o Serviço de Medicina do Centro Hospitalar Universitário do Porto colaborou na organização de uma Consulta Multidisciplinar de Cessação Tabágica, juntamente com o Serviço de Psiquiatria de Ligação. Trata-se de uma consulta para pacientes que necessitam de uma intervenção intensiva e inclui consultas individuais e consultas de grupo de doentes.
Mas, mais importante que tratar as doenças associadas ao tabaco, é a sua prevenção. Assim, para além de ajudar as pessoas doentes a deixar de fumar, também são nossa preocupação e alvo de cuidados as pessoas saudáveis que fumam, nomeadamente profissionais da Instituição.
Assinalamos anualmente o dia 31 de maio com sessões de sensibilização para a população, incluindo os mais novos, que ainda não fumam. Sabemos que a sensibilização deve começar nas escolas.
De acordo com a recomendações da Direção-Geral da Saúde de 2007, “todos os profissionais de saúde têm a responsabilidade de promover estilos de vida saudáveis e de prestar cuidados preventivos à população, independentemente do tipo de cuidados que prestem e do local de trabalho onde exerçam, em particular no que se refere à prevenção e tratamento do tabagismo. A maioria da população recorre, em diversos momentos, a uma consulta médica ou a outros serviços de saúde, o que oferece excelentes oportunidades para a avaliação do consumo de tabaco e a promoção da cessação tabágica.”

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Osteoporose: uma prevenção que se inicia na infância

Artigo de opinião de Miguel Casimiro, Neurocirurgião e Presidente da SPPCV

Osteoporose: uma prevenção que se inicia na infância

A cada três segundos, uma pessoa no mundo sofre uma fratura causada pela osteoporose. Estes são dados da Fundação Internacional de Osteoporose, que revela ainda que mais de 200 milhões de pessoas, a uma escala global, sofrerem deste problema. Perante estes números, importa refletir o que é a osteoporose e quais os fatores que lhe dão origem.

Caraterizada pela diminuição de massa óssea, a osteoporose é uma doença do esqueleto que enfraquece os ossos, ou seja, que retira qualidade e resistência às estruturas ósseas, tornando-as mais vulneráveis ao risco de fratura.

Durante os primeiros anos de vida, mais propriamente durante a infância e adolescência, dá-se um aumento progressivo da densidade óssea, que atinge o seu pico por volta dos 30 anos de idade, altura em que o indivíduo apresenta um esqueleto mais resistente. Após esse período, devido ao processo natural de remodelação dos ossos, a formação de massa óssea é ultrapassada pela progressiva perda de densidade óssea. Se o organismo não conseguir manter uma quantidade adequada de formação óssea, a degradação óssea tornar-se-á cada vez mais acentuada, resultando na osteoporose.

Esta é muitas vezes chamada de "doença silenciosa", uma vez que os primeiros sinais surgem geralmente numa fase avançada da doença. A fratura é o primeiro sintoma. Como resultado de pequenos traumatismos ou, noutros casos, sem trauma evidente, a fratura osteoporótica é mais frequente nas vértebras, anca e punho. A osteoporose pode causar ainda dores intensas nas costas, diminuição da altura, deformação da coluna vertebral, alterações na postura com cifose progressiva (formação de corcunda) e cabeça e ombros descaídos para frente.

A osteoporose afeta cerca de um milhão de portugueses, atingindo 17 por cento das mulheres e 2,6 por cento dos homens. A diferença explica-se pelo declínio hormonal que ocorre durante a menopausa, que acentua a perda de matriz óssea. Para além do impacto desta doença na qualidade de vida dos doentes, as fraturas osteoporóticas podem ter graves consequências, nomeadamente a incapacitação grave do doente, ou até mesmo a mortalidade.

A probabilidade de vir a sofrer de osteoporose aumenta com a idade, mas a doença não é uma consequência inevitável do envelhecimento. As causas podem ser genéticas, associadas a uma baixa estatura e peso, baixo índice de massa corporal e a um historial familiar de fratura. No entanto, também o diagnóstico de outras doenças, como a artrite reumatoide, a utilização de medicamentos, como por exemplo derivados de cortisona, e estilos de vida não saudáveis potenciam o risco de doença. O escasso consumo de cálcio, tabagismo, o consumo excessivo de álcool e cafeína e o sedentarismo são também fatores de risco, que devem ser corrigidos precocemente.

Em relação ao tratamento, geralmente recorre-se à prescrição de medicamentos, em particular aqueles que são ricos em cálcio e vitamina D, ou substâncias que pretendem inibir a degradação já instalada e estimular a reposição de cálcio no osso e a formação óssea. Contudo, é mais fácil prevenir a perda de massa óssea do que restaurá-la.

A prevenção da osteoporose passa pela adoção de hábitos adequados que permitam aumentar a resistência do esqueleto e, por outro lado, reduzir ao mínimo a sua perda. Uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física são cruciais em todas as fases da vida, contribuindo para a obtenção de bons índices de massa óssea.

No que diz respeito ao exercício físico, este tem um papel importante na solidez dos ossos, no fortalecimento dos músculos, e na melhoria da postura e equilíbrio. Para o fortalecimento dos ossos, os exercícios que requerem esforço ao nível dos membros inferiores são aconselhados, como corrida, jogging ou natação. Já para a manutenção da força, são aconselhados exercícios com suporte de peso e impacto, como levantamento de pesos, saltar à corda, correr e subir escadas.

À medida que a idade avança, os benefícios da atividade física centram-se na redução do risco de queda. Depois de diagnosticada a osteoporose, dado o risco de fratura, nem todos os exercícios são recomendados, mas a solução não é ficar no sofá. Para abrandar a perda óssea e reduzir o risco de dor, atividades de baixo impacto como exercícios de resistência, natação e hidroginástica podem ser uma opção.

Na ocorrência de dor aguda e incapacitante da coluna, muitas vezes associada a pequenos traumatismos, (que podem decorrer de atividades simples do dia a dia), suspeite de uma fratura vertebral e contacte um especialista. Tratamentos para alívio da dor, por pouco agressivos que possam parecer realizados, sem o diagnóstico correto podem agravar mais a situação. O diagnóstico precoce de uma fratura aguda permite otimizar o tratamento e evitar deformidades progressivas mais difíceis de corrigir no futuro. O tratamento pode ser feito com recurso a medicamentos ou através de intervenções percutâneas relativamente simples. Após a primeira fratura, o risco de novas fraturas aumenta em cerca de cinco vezes, pelo que é fundamental a prevenção de microtraumatismos e iniciar o tratamento eficaz o mais rapidamente possível.

As fraturas osteoporóticas constituem um grave problema de saúde pública. Em 2050, a previsão de incidência mundial aponta para que o número de fraturas mais que duplique nas mulheres e triplique nos homens. Desta forma, a prevenção torna-se essencial e deve começar desde cedo. Consulte o seu médico de família ou um especialista para fazer o despiste precoce desta doença, especialmente se é mulher e se já atingiu a menopausa. Como em tudo, mais vale prevenir que remediar.

Este é um conselho da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Hipertensão arterial: o que é e como prevenir?


Artigo de Opinião de Pedro Marques da Silva, Internista e Coordenador do NEPRV
Hipertensão arterial: o que é e como prevenir?
Ser hipertenso em Portugal é, infelizmente, uma realidade comum. De tão comum que temos de estar atentos a como a hipertensão arterial é diagnosticada e como a pressão arterial é medida no consultório, nas farmácias, nos rastreios ou em casa.
Ser hipertenso (aumento da pressão arterial), em repouso é apresentar uma pressão sistólica superior ou igual a 140 milímetro de mercúrio (mmHg) e/ou uma pressão diastólica superior ou igual a 90 mmHg.
O diagnóstico da hipertensão arterial passa, obrigatoriamente, pela determinação correta da pressão arterial. Para a medir, são necessários um aparelho adequado (esfigmomanómetro) e um técnico de saúde que saiba o que vai fazer: que não prescinda das condições mínimas, técnicas e ambientais, para a efetuar.
A determinação da pressão arterial continua a ser um dos gestos mais importantes na clínica médica, mas, infelizmente, uma das técnicas em que mais imprecisões são realizadas e menos cuidados são tomados. Anote alguns dos cuidados que temos de ter na determinação da pressão arterial: o ambiente tem de ser sossegado, para que você se sinta calmo e relaxado; tem de estar confortavelmente sentado, pelo menos durante um a três minutos antes deste processo; não deverá ter fumado ou bebido café na meia hora anterior (e, já agora, convém também saber se precisa de ir à casa de banho); o braço usado para a medição deve estar sem roupa apertada e devidamente apoiado, enquanto que a sua posição deve permitir que a braçadeira possa ficar ao nível do coração; a variabilidade da pressão arterial torna aconselhável a repetição da avaliação; enquanto estiver neste processo não fale, e procure não estar inquieto e ansioso.
Avaliar clinicamente um doente com hipertensão arterial é bem mais do que medir a sua pressão arterial ou ouvir as suas queixas e sintomas. A apreciação do doente, antes e depois do início do tratamento tem de procurar diagnosticar e identificar uma possível causa da doença, avaliar as suas repercussões nos órgãos sofredores pela subida persistente e mantida da pressão arterial (coração, cérebro, olhos, rins e vasos sanguíneos), e identificar e valorizar outros possíveis fatores de risco coexistentes (como a diabetes, tabagismo, aumento do colesterol plasmático, obesidade e antecedentes familiares da doença).
O tratamento da hipertensão arterial pretende, a curto prazo, reduzir e controlar a pressão arterial, de modo a contrariar, a médio prazo, a progressão da doença e a sua repercussão nos órgãos-alvo, assim como a melhorar, a longo prazo, a morbilidade e a mortalidade cardiovascular associada a esta doença.
É estrutural gerir a participação de todos num plano de saúde de prevenção cardiovascular. Os erros alimentares, o excesso de sal, os hábitos e comportamentos aditivos (hábitos tabágicos e a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas), o sedentarismo e a inatividade física, a obesidade e a má gestão do stress estão entre os principais fatores relacionados com a hipertensão arterial e o risco cardiovascular. É fundamental criar condições ambientais, económicas e sociais mais favoráveis à saúde e à escolha de comportamentos saudáveis, e favorecer a participação dos cidadãos na conceção e desenvolvimento de ações de prevenção. Finalmente, é obrigatório diagnosticar adequada e atempadamente a hipertensão arterial, e ao mesmo tempo usar racionalmente a melhor e a mais adequada terapêutica medicamentosa, tendo em conta a gravidade de cada situação e as especificidades de cada doente, estimulando, por todos os meios, uma resposta positiva ao tratamento e o enriquecimento da relação médico-doente. 
São vários os medicamentos (e os grupos farmacológicos) disponíveis e usados para baixarem a pressão arterial (medicamentos anti hipertensores). Não há medicamentos perfeitos e não há qualquer razão para dizer que este ou aquele fármaco deve ser o preferido para iniciar o tratamento em todos os doentes. Cada doente é um doente. Mas temos a noção que, na larga maioria, vamos precisar de pelo menos dois fármacos em simultâneo (por exemplo, em associações fixas), para conseguir controlar ou baixar razoavelmente a pressão arterial elevada dos nossos doentes. É por isso que o tratamento farmacológico tem de ser individualizado. É também por isso que o tratamento é mais eficaz quando o médico conhece bem o doente e quando ambos, médico e doente, percebem a importância de comunicarem, de terem uma boa relação e de se comprometerem e de colaborarem no tratamento.
Não se esqueça: quem melhor conhece a sua doença, quem melhor aponta o que deve fazer é o seu médico. Ele é a sua melhor fonte de informação. Falem, relacionem-se, interatuem e confiem, pela sua Saúde!

terça-feira, 14 de maio de 2019

Miopia pode afetar metade da população mundial em 2050


Artigo de Opinião de Raúl Sousa, Optometrista e Presidente da APLO
Semana Mundial para a Consciencialização da Miopia realiza-se de 13 a 19 de maio
Miopia pode afetar metade da população mundial em 2050
A prevalência da miopia está a aumentar globalmente a um ritmo alarmante, com o aumento significativo dos riscos para a deficiência visual causada pelas condições patológicas associadas com a miopia elevada, incluindo patologias da retina, catarata e glaucoma. O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) – Instituto de Visão Brien Holden contabilizou, em 2010, quase dois mil milhões de pessoas que sofriam de miopia (27 por cento da população mundial), sendo que 2,8 por cento sofre de miopia elevada. É projetado para 2050 um aumento para quase cinco mil milhões de míopes, representando 52 por cento da população mundial, dos quais cerca de mil milhões serão altos míopes, ou seja, 10 por cento da população mundial.
É relevante que o erro refrativo seja apontado, tanto no mundo como em Portugal como a causa principal de deficiência visual, e a miopia não corrigida como a causa mais frequente de deficiência visual, quando avaliada pela acuidade visual de apresentação. Sabemos que a não correção ou correção inadequada contribui para o aumento do valor da miopia em crianças e adolescentes. A OMS também aponta que a redução do ritmo de progressão da miopia em 50 por cento pode reduzir a prevalência da miopia elevada em 90 pontos percentuais. A correção da miopia nas crianças elimina o maior obstáculo evitável à aprendizagem e desenvolvimento individual, com benefícios gigantescos para a sociedade. O impacto da saúde visual estende-se para lá da prevalência da deficiência visual e cegueira. É um catalisador de progresso e está interligado com o emprego e crescimento, igualdade de género e oportunidades, educação, segurança rodoviária e saúde física e bem-estar mental individual.
Por esse motivo, assegurar o acesso aos cuidados primários para a saúde da visão na comunidade e de proximidade é absolutamente prioritário e essencial. Nas palavras da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira: “Os optometristas desempenham um papel vital ao assegurarem o acesso a cuidados para a saúde da visão. Eles frequentemente são o primeiro ponto de contacto para a população que sofre de problemas visuais; responsáveis por examinar o olho, prescrever óculos e lentes de contacto e, importante, detetando qualquer doença ocular ou anomalia, referenciando para o médico, quando necessário.”
A miopia carateriza-se por uma visão desfocada dos objetos situados ao longe e visão mais nítida dos objetos próximos. Este processo ocorre devido ao aumento do globo ocular em relação à sua normal morfologia, ou ao aumento da curvatura na córnea, o que leva a que as imagens dos objetos situados a mais de cinco metros fiquem desfocadas, uma vez que o foco é feito antes da retina.
É na infância e na adolescência que normalmente surge esta condição, que tende a progredir com o passar dos anos até estabilizar por volta dos 20 anos, sendo que a deteção e a compensação atempadas ajudam a estabilizar a evolução do problema.
O primeiro passo para o diagnóstico da miopia passa pela identificação dos principais sintomas, para os quais os pais devem estar alerta. São eles as dores de cabeça, cansaço associado ao esforço ocular, fechar um pouco os olhos para ver melhor, pestanejo regular, aproximar-se para assistir televisão, etc. A sala de aula é também um contexto importante para a deteção da miopia, principalmente se a criança ou jovem mostrar dificuldade em ler para o quadro.
Sempre que reconhecer um ou mais destes sintomas, deverá procurar um especialista nos cuidados para a saúde da visão, nomeadamente um optometrista ou um oftalmologista. No caso do optometrista, o diagnóstico é realizado através de várias técnicas distintas nas quais se incluem a retinoscopia ou autorrefratometria, que visam avaliar o erro refrativo objetivo; e a refração subjetiva, um método refrativo em que o resultado depende da resposta do paciente.
A miopia é multifatorial, mas o principal fator de risco para o desenvolvimento da miopia é a genética, isto porque a presença desta condição num ou ambos os progenitores aumenta a probabilidade de a criança vir a ter miopia. Em suma, estudos recentes têm apontado para a existência de outros fatores potencialmente proporcionadores de miopia, a saber: passar grandes períodos a ler, ao telemóvel, ao computador ou a ver televisão, a existência de pouca luz, a falta de exercício físico ao ar livre, entre outros.
Recentemente a Organização Mundial da Saúde divulgou um conjunto de recomendações a respeito da atividade física, comportamento sedentário e sono nas crianças com menos de cinco anos de idade. Nesse relatório é descrito o tempo ideal de utilização da televisão e dispositivos eletrónicos para este grupo etário. Segundo a OMS, crianças até um ano não devem utilizar estes monitores, enquanto que dos dois aos quatro anos o tempo de visualização não deve ultrapassar os 60 minutos.
No que concerne ao seu tratamento, a compensação da miopia é feita com o auxílio de lentes côncavas (lentes negativas), que podem ser oftálmicas (lentes para óculos), de contacto ou intraoculares (lente introduzida dentro do olho através de intervenção cirúrgica).
Alcançar o diagnóstico atempado deste e outros erros refrativos, assim como a aposta na prevenção de comportamentos de risco, são dois dos principais desafios dos optometristas, os quais só poderão ser cumpridos se se apostar na consciencialização da nossa sociedade.
Segundo o Instituto da Visão Brien Holden e o Conselho Mundial de Optometria, que este ano organizaram o “Myopia Movement”, uma iniciativa de sensibilização mundial para esta condição visual, procura-se evitar que até 2050 o número de pessoas com miopia possa chegar aos cinco mil milhões, o que equivale a 50 por cento da população mundial. É com a missão de trabalhar para a melhoria desta previsão que os optometristas, enquanto profissionais que prestam cuidados primários para a saúde da visão, vão continuar a empenhar-se para trazer mais conhecimento sobre a miopia e outros erros refrativos junto da população portuguesa, promovendo o alerta para o reconhecimento dos sintomas destas condições visuais.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Lúpus: desmistificar a doença para o mundo


Artigo de Opinião de António Marinho, Internista e Coordenador do NEDAI
Dia Mundial do Lúpus assinala-se a 10 de maio
Lúpus: desmistificar a doença para o mundo
O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES), comumente conhecido apenas como Lúpus, é uma conectivite (doença do colagénio) sistémica difusa do tecido conjuntivo, muito conhecida da população, mas com muitos mitos e informações enganosas, o que traz uma responsabilidade acrescida à comunidade médica em abordar e esclarecer esta temática. Para isso, desenvolvemos um conjunto de afirmações que nos parecem corresponder a dúvidas e erros comuns:
O LES é sempre uma doença grave com diminuição da sobrevida.
Felizmente a maioria dos doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico têm a doença limitada à pele e articulações, de fácil controlo e sem impacto significativo no seu futuro. Para que isso se mantenha existem regras básicas, nomeadamente cumprir a medicação e ter hábitos de vida saudáveis, em particular a evicção (privação) da exposição solar e do consumo de tabaco.
O tratamento é difícil, pouco eficaz e inclui doses elevadas de corticoides.
Existem doentes com LES que necessitam de corticoides (grupo de hormonas esteroides) em altas doses, nomeadamente nas manifestações renais, hematológicas e neuropsiquiátricas. No entanto, os esquemas têm doses cada vez menores e por um período de tempo mais curto. Por outro lado, nas formas ligeiras de Lúpus, as doses são baixas ou até podem ser dispensadas. É necessário salientar que a maioria das dificuldades de controlo da doença estão relacionadas com a baixa adesão à medicação, uma vez que muitos doentes não tomam os corticoides nas doses prescritas, não tomam hidroxicloroquina (um dos medicamentos utilizados para o tratamento do LES), e não cumprem as restrições necessárias. É nossa obrigação salientar que o incumprimento da medicação é a principal causa do mau controlo da doença.
A hidroxicloroquina é muito tóxica.
De uma forma geral, a hidroxicloroquina deveria ser prescrita a todos os doentes com Lúpus. Previne as suas formas graves, é eficaz no controlo articular e cutâneo, reduz o risco vascular e globalmente aumenta a sobrevida dos doentes com esta doença. O medo da toxicidade oftalmológica é infundado desde que se usem doses até 5 mg/kg/dia (por exemplo, se o paciente pesar 50 quilos, deverá tomar até 250 miligramas do medicamento por dia). Os estudos demonstram uma clara relação dos surtos graves com o facto de não se cumprir o antimalárico hidroxicloroquina.
A gravidez no lúpus é de risco muito elevado e a medicação deve ser suspensa.
Efetivamente a gravidez em mulheres com Lúpus Eritematoso Sistémico pode, por vezes, ser um desafio complicado. Porém, se a gravidez ocorrer numa fase calma da doença, esta pode ser totalmente segura, desde que acompanhada por equipas multidisciplinares experientes. Um dos erros comuns é pensar que as medicações devem ser suspensas, contudo deve ocorrer o oposto: estas devem ser mantidas, pois aumentam o sucesso de uma gravidez bem-sucedida, em especial a hidroxicloroquina.
Anticoncepção com estroprogestativo é contraindicada.
A pílula convencional só deve ser contraindicada em doentes com anticorpos positivos para a síndrome anti fosfolipídico, pois aumenta o risco trombótico.
Existem novos tratamentos inovadores muito eficazes.
A maioria dos tratamentos ditos convencionais são muito eficazes e apenas um tratamento inovador foi aprovado nos últimos 30 anos, o Belimumab. No entanto, este só está aprovado para formas específicas de Lúpus em alta atividade.
Para o Dia Mundial do Lúpus, a mensagem que gostaria de passar passa pelo cumprimento rigoroso da terapêutica e da adoção de estilos de vida saudável, pois estes continuam a ser a base do tratamento e de um melhor prognóstico.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Casos de diabetes mellitus tipo 1 estão a aumentar

Reunião temática abre discussão na área da diabetologia

Casos de diabetes mellitus tipo 1 estão a aumentar

O Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus (NEDM) da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna (SPMI) vai realizar, este sábado, no Hotel Solverde, em Espinho, a sua 6ª Reunião Temática. Esta iniciativa terá como tema principal a diabetes mellitus Tipo 1.

“Perto de 1 milhão de portugueses têm diabetes, segundo o Observatório da Diabetes em Portugal, sendo que 500 mil pessoas ainda não o sabem. Apesar de a diabetes mellitus tipo 1 ser menos frequente que o tipo 2, o número de casos tem vindo a aumentar, o que torna cada vez mais relevante a promoção da discussão de temáticas associadas à doença junto da comunidade médica”, explica Estevão Pape, internista e coordenador do NEDM.

Desta forma, acrescenta, “o NEDM vai organizar uma reunião dirigida a médicos da especialidade de Medicina Interna e outros profissionais de saúde, onde serão debatidos temas como a deteção precoce e a prevenção da diabetes mellitus tipo 1, a insulinoterapia, bem como os desafios futuros para o tratamento da doença, quer no que respeita ao surgimento de novas tecnologias, quer em relação aos emergentes métodos de monitorização da glicemia”.

A diabetes é uma doença crónica que se carateriza pelo aumento dos níveis de glicemia (açúcar no sangue), que provoca a deterioração dos vasos sanguíneos. No caso da diabetes mellitus tipo 1, considerada uma doença autoimune, o pâncreas deixa de produzir insulina, a hormona responsável pelo controlo do açúcar no sangue, ou então não consegue produzir as quantidades necessárias. As consequências desta doença são diversas, respetivamente o maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, como o enfarte agudo do miocárdio, angina de peito, insuficiência renal ou cegueira.

Porque é que estamos cada vez mais gordos ?

Hoje assinala-se o Dia Nacional de Luta contra a Obesidade Estudos mostram que a obesidade é mais passível de preconceito e discriminação do...