Artigo
de Opinião de António Marinho, Internista e Coordenador do NEDAI
Dia Mundial do Lúpus
assinala-se a 10 de maio
Lúpus: desmistificar a
doença para o mundo
O Lúpus
Eritematoso Sistémico (LES), comumente conhecido apenas como Lúpus, é uma
conectivite (doença do colagénio) sistémica difusa do tecido conjuntivo, muito
conhecida da população, mas com muitos mitos e informações enganosas, o que
traz uma responsabilidade acrescida à comunidade médica em abordar e esclarecer
esta temática. Para isso, desenvolvemos um conjunto de afirmações que nos
parecem corresponder a dúvidas e erros comuns:
O LES é sempre uma doença grave com diminuição da
sobrevida.
Felizmente a
maioria dos doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico têm a doença limitada à
pele e articulações, de fácil controlo e sem impacto significativo no seu
futuro. Para que isso se mantenha existem regras básicas, nomeadamente cumprir
a medicação e ter hábitos de vida saudáveis, em particular a evicção (privação)
da exposição solar e do consumo de tabaco.
O tratamento é difícil, pouco eficaz e inclui doses
elevadas de corticoides.
Existem
doentes com LES que necessitam de corticoides (grupo de hormonas esteroides) em
altas doses, nomeadamente nas manifestações renais, hematológicas e
neuropsiquiátricas. No entanto, os esquemas têm doses cada vez menores e por um
período de tempo mais curto. Por outro lado, nas formas ligeiras de Lúpus, as
doses são baixas ou até podem ser dispensadas. É necessário salientar que a
maioria das dificuldades de controlo da doença estão relacionadas com a baixa
adesão à medicação, uma vez que muitos doentes não tomam os corticoides nas
doses prescritas, não tomam hidroxicloroquina (um dos medicamentos utilizados
para o tratamento do LES), e não cumprem as restrições necessárias. É nossa
obrigação salientar que o incumprimento da medicação é a principal causa do mau
controlo da doença.
A hidroxicloroquina é muito tóxica.
De uma forma
geral, a hidroxicloroquina deveria ser prescrita a todos os doentes com Lúpus.
Previne as suas formas graves, é eficaz no controlo articular e cutâneo, reduz
o risco vascular e globalmente aumenta a sobrevida dos doentes com esta doença.
O medo da toxicidade oftalmológica é infundado desde que se usem doses até 5
mg/kg/dia (por exemplo, se o paciente pesar 50 quilos, deverá tomar até 250
miligramas do medicamento por dia). Os estudos demonstram uma clara relação dos
surtos graves com o facto de não se cumprir o antimalárico hidroxicloroquina.
A gravidez no lúpus é de risco muito elevado e a
medicação deve ser suspensa.
Efetivamente
a gravidez em mulheres com Lúpus Eritematoso Sistémico pode, por vezes, ser um
desafio complicado. Porém, se a gravidez ocorrer numa fase calma da doença,
esta pode ser totalmente segura, desde que acompanhada por equipas
multidisciplinares experientes. Um dos erros comuns é pensar que as medicações
devem ser suspensas, contudo deve ocorrer o oposto: estas devem ser mantidas,
pois aumentam o sucesso de uma gravidez bem-sucedida, em especial a
hidroxicloroquina.
Anticoncepção com estroprogestativo é contraindicada.
A pílula
convencional só deve ser contraindicada em doentes com anticorpos positivos
para a síndrome anti fosfolipídico, pois aumenta o risco trombótico.
Existem novos tratamentos inovadores muito eficazes.
A maioria
dos tratamentos ditos convencionais são muito eficazes e apenas um tratamento
inovador foi aprovado nos últimos 30 anos, o Belimumab. No entanto, este só
está aprovado para formas específicas de Lúpus em alta atividade.
Para o Dia
Mundial do Lúpus, a mensagem que gostaria de passar passa pelo cumprimento
rigoroso da terapêutica e da adoção de estilos de vida saudável, pois estes
continuam a ser a base do tratamento e de um melhor prognóstico.
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