Artigo de Opinião de Pedro Marques
da Silva, Internista e Coordenador do NEPRV
Hipertensão
arterial: o que é e como prevenir?
Ser
hipertenso em Portugal é, infelizmente, uma realidade comum. De tão comum que
temos de estar atentos a como a hipertensão arterial é diagnosticada e como a
pressão arterial é medida no consultório, nas farmácias, nos rastreios ou em
casa.
Ser
hipertenso (aumento da pressão arterial), em repouso é apresentar uma pressão
sistólica superior ou igual a 140 milímetro de mercúrio (mmHg) e/ou uma pressão
diastólica superior ou igual a 90 mmHg.
O
diagnóstico da hipertensão arterial passa, obrigatoriamente, pela determinação
correta da pressão arterial. Para a medir, são necessários um aparelho adequado
(esfigmomanómetro) e um técnico de saúde que saiba o que vai fazer: que não
prescinda das condições mínimas, técnicas e ambientais, para a efetuar.
A
determinação da pressão arterial continua a ser um dos gestos mais importantes
na clínica médica, mas, infelizmente, uma das técnicas em que mais imprecisões
são realizadas e menos cuidados são tomados. Anote alguns dos cuidados que
temos de ter na determinação da pressão arterial: o ambiente tem de ser
sossegado, para que você se sinta calmo e relaxado; tem de estar
confortavelmente sentado, pelo menos durante um a três minutos antes deste
processo; não deverá ter fumado ou bebido café na meia hora anterior (e, já
agora, convém também saber se precisa de ir à casa de banho); o braço usado
para a medição deve estar sem roupa apertada e devidamente apoiado, enquanto
que a sua posição deve permitir que a braçadeira possa ficar ao nível do
coração; a variabilidade da pressão arterial torna aconselhável a repetição da
avaliação; enquanto estiver neste processo não fale, e procure não estar
inquieto e ansioso.
Avaliar
clinicamente um doente com hipertensão arterial é bem mais do que medir a sua pressão
arterial ou ouvir as suas queixas e sintomas. A apreciação do doente, antes e
depois do início do tratamento tem de procurar diagnosticar e identificar uma
possível causa da doença, avaliar as suas repercussões nos órgãos sofredores
pela subida persistente e mantida da pressão arterial (coração, cérebro, olhos,
rins e vasos sanguíneos), e identificar e valorizar outros possíveis fatores de
risco coexistentes (como a diabetes, tabagismo, aumento do colesterol
plasmático, obesidade e antecedentes familiares da doença).
O tratamento
da hipertensão arterial pretende, a curto prazo, reduzir e controlar a pressão
arterial, de modo a contrariar, a médio prazo, a progressão da doença e a sua repercussão
nos órgãos-alvo, assim como a melhorar, a longo prazo, a morbilidade e a
mortalidade cardiovascular associada a esta doença.
É estrutural
gerir a participação de todos num plano de saúde de prevenção cardiovascular.
Os erros alimentares, o excesso de sal, os hábitos e comportamentos aditivos
(hábitos tabágicos e a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas), o sedentarismo
e a inatividade física, a obesidade e a má gestão do stress estão entre os
principais fatores relacionados com a hipertensão arterial e o risco cardiovascular.
É fundamental criar condições ambientais, económicas e sociais mais favoráveis
à saúde e à escolha de comportamentos saudáveis, e favorecer a participação dos
cidadãos na conceção e desenvolvimento de ações de prevenção. Finalmente, é
obrigatório diagnosticar adequada e atempadamente a hipertensão arterial, e ao
mesmo tempo usar racionalmente a melhor e a mais adequada terapêutica
medicamentosa, tendo em conta a gravidade de cada situação e as especificidades
de cada doente, estimulando, por todos os meios, uma resposta positiva ao
tratamento e o enriquecimento da relação médico-doente.
São vários
os medicamentos (e os grupos farmacológicos) disponíveis e usados para baixarem
a pressão arterial (medicamentos anti hipertensores). Não há medicamentos
perfeitos e não há qualquer razão para dizer que este ou aquele fármaco deve
ser o preferido para iniciar o tratamento em todos os doentes. Cada doente é um
doente. Mas temos a noção que, na larga maioria, vamos precisar de pelo menos dois
fármacos em simultâneo (por exemplo, em associações fixas), para conseguir
controlar ou baixar razoavelmente a pressão arterial elevada dos nossos
doentes. É por isso que o tratamento farmacológico tem de ser individualizado.
É também por isso que o tratamento é mais eficaz quando o médico conhece bem o
doente e quando ambos, médico e doente, percebem a importância de comunicarem,
de terem uma boa relação e de se comprometerem e de colaborarem no tratamento.
Não se
esqueça: quem melhor conhece a sua doença, quem melhor aponta o que deve fazer
é o seu médico. Ele é a sua melhor fonte de informação. Falem, relacionem-se,
interatuem e confiem, pela sua Saúde!
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