Dia Internacional da Mulher
assinala-se a 8 de março
A
grávida com doença crónica: Diabetes Mellitus
Todas as mulheres
com doenças crónicas, como hipertensão arterial, asma, diabetes, obesidade,
epilepsia, lúpus ou depressão, devem pedir apoio ao seu médico quando planeiam
engravidar. Sejam os médicos de família, os internistas (médicos que
diagnosticam e seguem uma grande parte das mulheres com doenças crónicas nos
hospitais) ou outros especialistas que sigam as pessoas com doenças crónicas,
devem ser equacionados os riscos para a mulher e para o bebé, nomeadamente a
possibilidade da doença complicar o curso da gravidez, da gravidez descompensar
a doença e, em particular, os eventuais riscos da medicação.
Durante a
gravidez e amamentação há medicação que se sabe que é segura (ou seja, que não
faz mal ao bebé) e pode mesmo ser essencial, mas há igualmente medicação que
não deve ser tomada. Nestas situações, os médicos devem ser capazes de
esclarecer e ajudar as mulheres a decidir, ou encaminhá-las para colegas que o
façam. Há casos em que a mulher deve ser aconselhada a esperar pelo melhor
controlo da doença, outros em que quanto mais adiar, pior o prognóstico, e
ainda casos, muito raros, em que a gravidez ou a amamentação devem ser mesmo contraindicadas,
sendo que estas situações devem ser bem discutidas e esclarecidas com a mulher
e família, e se necessário, com o parecer de vários médicos.
A Diabetes
Mellitus é uma alteração do metabolismo da glucose (açúcar) que afeta
progressivamente todo o organismo. Existem vários tipos de Diabetes: Diabetes
tipo 1, Diabetes tipo 2 e Diabetes Gestacional são os mais comuns. Globalmente
e em especial nos países desenvolvidos, o número de doentes com Diabetes está a
aumentar, atingindo quase 10 por cento dos adultos.
A Diabetes
tipo 1 é geralmente diagnosticada na infância ou juventude e obriga a medicação
com insulina. A Diabetes tipo 2 é habitualmente diagnosticada em adultos,
frequentemente associada ao excesso de peso e deve ser gerida com medidas
gerais, especialmente dieta e exercício físico, e muitas vezes evolui para a
necessidade de medicação com comprimidos e/ou insulina.
Com
adequados cuidados de saúde há cada vez mais meninas com Diabetes tipo 1 a
chegar à idade adulta e a terem filhos. Pelo crescente número de grávidas mais
velhas e de grávidas com excesso de peso, há também cada vez mais grávidas com
Diabetes tipo 2. As mulheres com ambos os tipos desta doença têm maior risco de
complicações na gravidez (gravidez de risco) e por isso devem procurar planear
e vigiar.
Planear – ainda
antes de engravidar e com apoio médico, dieta e terapêutica adequadas, devem
otimizar-se os valores da glicémia, pois com adequados níveis antes da
gravidez, diminui-se o risco de malformações e perdas fetais. Devem rever-se também
as eventuais lesões já causadas pela Diabetes, para ajustar a medicação e
diminuir o risco de as agravar. Ao engravidar, é muito importante não suspender
a medicação sem indicação médica.
Vigiar –
durante a gravidez, estas doentes devem ser apoiadas em consultas frequentes,
quer para vigilância da doença, quer para vigilância da gravidez (e por vários
profissionais: médico de família, internista ou endocrinologista, obstetra,
enfermeiros, dietistas) – é normal e desejável terem muito mais consultas que
fora da gravidez e muito mais consultas que as grávidas saudáveis. Com o
planeamento e vigilância adequados, o processo de gestação torna-se muito mais
seguro e a mãe e o bebé mais saudáveis. Na maioria dos casos, as diabéticas
podem ter partos vaginais, mas estes devem sempre ser feitos em meio
hospitalar.
Por outro
lado, durante a gravidez todas as mulheres passam por mudanças no metabolismo
que as tornam um pouco mais parecidas com as diabéticas e muitas chegam mesmo
ao diagnóstico de Diabetes Gestacional (DG): este tipo de Diabetes é muito mais
ligeiro, pode precisar ou não de medicação, e geralmente “desaparece” pouco
depois do final da gravidez.
Em Portugal
recomenda-se que todas as grávidas (sem Diabetes conhecida) façam análises para
rastreio da doença. Para um crescimento seguro e harmonioso dos bebés, e também
para diminuir o risco de complicações para elas mesmas, as grávidas com DG
devem fazer um controlo cuidadoso da glicémia, da dieta e exercício físico
(quando possível). Se necessário, serão aconselhadas a iniciar medicação, com
comprimidos ou insulina. Depois do parto, estas mesmas mulheres devem colher novas
análises para confirmar se os valores glicémicos voltaram ao normal (é o mais
comum), ou se seria uma Diabetes tipo 1 ou tipo 2 que não tinha sido
diagnosticada. Mesmo que as análises normalizem, estas mulheres e os seus bebés
têm maior risco de vir a desenvolver Diabetes (noutras gravidezes e ao longo da
vida) e doenças cardiovasculares, por isso merecem todos ser vigiados e
aconselhados para favorecer hábitos saudáveis e peso ideal.
Artigo
de Opinião de Inês Palma Reis, Internista e Coordenador do NEMO
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