Dia Mundial do Doente
assinala-se a 11 de fevereiro
A Medicina Interna não
trata o doente apenas: respeita-o
O
Dia Mundial do Doente foi instituído com o intuito “de apelar à humanidade para
que seja promovido um serviço de maior atenção à pessoa doente”.
Nos
tempos atuais, os doentes são cada vez mais complexos, portadores de múltiplas
doenças crónicas e, portanto, mais sujeitos a descompensação. A Medicina
Interna está na primeira linha do atendimento destes doentes no hospital, pois
é a maior especialidade médica hospitalar, com 2.600 especialistas inscritos na
Ordem dos Médicos. Os serviços de Medicina Interna são responsáveis por 43 por
cento de todas as altas hospitalares, 70 por cento dos AVC’s internados, 80 por
cento das insuficiências cardíacas, doenças pulmonares obstrutivas crónicas, pneumonias
e lupus, e 30 por cento dos doentes diabéticos internados nestes serviços.
Os
médicos de Medicina Interna estão presentes em todos os hospitais do país. O
internista está onde o doente precisa dele, nos internamentos hospitalares ou
no domicílio, nas consultas, no serviço de urgência, na emergência, na
consultadoria ao doente internado nos serviços de especialidades médicas e
cirúrgicas, nos cuidados continuados, nos cuidados intensivos ou intermédios,
nos hospitais de dia ou nos cuidados paliativos.
Quer
naqueles com doença crónica, quer na circunstância de uma patologia aguda, os
doentes devem ter uma resposta contínua, integrada, preventiva, centrada. Por
isso, o modelo atual de organização hospitalar, quase sempre espartilhado por
órgãos ou sistemas, é inadequado. Os doentes deveriam ser admitidos em
departamentos geridos pela Medicina Interna, que coordenaria a intervenção das
outras especialidades.
Exemplo
dos doentes que tipicamente o internista cuida são os idosos, com as suas
patologias crónicas que, muitas vezes, mantêm um equilíbrio ténue. É aquele
doente que tem insuficiência cardíaca e doença pulmonar crónica, pode até estar
equilibrado da sua diabetes, mas que fica com gripe, o que basta para que tudo
se desequilibre. Além disso, tem uma história de quedas frequentes: será que
fez algum traumatismo; a pressão arterial está muito baixa; toma a medicação prescrita;
estará polimedicado? A somar, sabe-se também que existem dificuldades
económicas, está desnutrido, vive sozinho e está deprimido e um pouco
desorientado. A tudo isso o internista tem de estar atento, quer saber e vai
querer resolver. A seguir vai selecionar as melhores terapêuticas,
individualizadas para aquela pessoa e que lhe poderão permitir uma melhor
qualidade de vida e a manutenção do seu estado funcional, sustentadas no
respeito das preferências de cada doente.
Outro
exemplo é um doente mais jovem, que tem dores nas articulações, que se sente
cansado, tem anemia, tem tido mais infeções do que seria normal, tem alterações
na pele, umas “manchas”, “alergias”, está ansioso porque não sabe o que tem,
mas sente-se mal. Fez alguns exames e já consultou vários especialistas, mas
continua sem perceber o que se passa. Igualmente aqui o internista pode juntar
todas as “peças” e diagnosticar, talvez uma doença autoimune sistémica. Neste
doente também haverá necessidade de atender todos os aspetos da doença,
incluindo os psicológicos, familiares e sociais. Com este doente, como com
todos os outros, serão discutidas as opções terapêuticas, ouvidas com atenção
as preocupações, ainda que muitas vezes os constrangimentos económicos
dificultem as escolhas terapêuticas ou as pressões de tempo atrapalhem estes
momentos de comunicação e de fortalecimento da relação médico-doente, tão
necessários à confiança e contribuindo para um melhor êxito do tratamento.
Os
internistas tratam o doente e respeitam o conceito de saúde na definição da Organização
Mundial de Saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social,
e não somente ausência de afeções e enfermidades”. Olham a pessoa na sua
globalidade e diversidade. Por isso, o internista continuará a ser, sem dúvida,
a base confiável do Serviço Nacional de Saúde no hospital, mantendo o seu
paradigma do conhecimento profundo e científico das doenças, aliando
competência a cada vez mais conhecimento.
Artigo de Opinião de Lèlita Santos, Internista e Membro da SPMI
Artigo de Opinião de Lèlita Santos, Internista e Membro da SPMI
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